Luís Osório critica relação fria do pai com Marco Paulo: “Que desperdício de vida”

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Três semanas após a morte de Marco Paulo, Luís Osório aborda a relação do cantor com o pai no ‘Postal do Dia’, intitulado: “Espero que o pai de Marco Paulo já tenha perdido a vergonha“.

Luís Osório, no ‘Postal do Dia’, escreve a João Marques Silva sobre pais que educam sem carinho ou afeto, e que tratam mal os filhos por serem diferentes, e reflete sobre o falecido pai de Marco Paulo, que morreu em 2011.

Se existe vida aí nesse lugar de paraíso por encontrar, o João já deve ter percebido que o seu filho morreu. O senhor nunca o tratou bem, nunca quis saber se as coisas lhe corriam de feição ou se precisava de ajuda no tempo das vacas magras. O senhor abominava tudo o que o seu filho fazia. Abominava o nome artístico que ele criou; sei que o gozou quando o viu de caracóis ou quando a sua mulher o informou que o país o conhecia como Marco Paulo. Abominava a mera ideia de algum dia o poder ver ao vivo. E no último dia em que ele lhe pediu para o ver cantar, depois de já ter vários discos de ouro e platina, o senhor João gritou com o seu filho, humilhou-o dizendo-lhe que não conseguia pôr em palavras o quanto o desprezava, o quanto dele tinha vergonha, acrescentou.

Luís Osório revela que Marco Paulo contou sobre a relação difícil com o pai, João Marques Silva, apenas após a morte deste, detalhando como o pai, que esperava que ele seguisse uma carreira convencional. “ Deve ter-lhe sido insuportável a ideia de o ver sair de casa para cantar. De não ouvir os seus conselhos, de não ligar às suas imposições, de se escudar os abraços e na proteção de Maria Isabel, a mãe que entendeu tudo no primeiro momento em que havia alguma coisa para entender, revelou.

No final da mensagem, Luís Osório expressa a João Marques Silva a dor de uma relação distante e sem afeto com Marco Paulo. “Talvez já tenha percebido o quanto foi ridícula a sua teimosia, a sua agressividade, o seu horror à desgraça da noite, das más companhias, das canções que só atraíam inúteis, da sua suspeita que talvez o João fosse homossexual.”

Talvez aí de cima tenha assistido à despedida que o seu filho teve aqui em baixo. Ao seu funeral com milhares de pessoas. Ao genuíno afeto que Portugal lhe devia (…) E cantava muito bem, talvez até saísse a si João. Quem sabe? É tudo um enorme ‘talvez’, mas há uma coisa que eu sei, João. Que desperdício foi não ter abraçado o seu filho, não lhe dito que estaria para ele fosse ele o que fosse, de não o ter visto cantar uma única vez. Que desperdício de vida e que pena para si“, finalizou.