Agressões em creche de Rabo de Peixe

A pequena vila piscatória de Rabo de Peixe na ilha de São Miguel, nos Açores, foi abalada nos últimos dias por um caso grave de maus-tratos a crianças numa creche local. As denúncias surgiram contra funcionárias da creche do Centro de Apoio à Criança n.º 1, pertencente à Casa do Povo de Rabo de Peixe e envolveram alegadas agressões físicas e psicológicas a crianças com idades compreendidas entre 1 e 3 anos.

As suspeitas começaram a ganhar forma após queixas de pais e educadoras, levando a direção da instituição a instalar câmaras de videovigilância no refeitório da creche. As gravações obtidas em apenas três dias mostraram cenas alarmantes: crianças a serem puxadas pelos cabelos para comerem, palmadas, gritos e, segundo os relatos, até episódios em que foram forçadas a engolir vómito.

As imagens não abrangiam outras zonas sensíveis, como as casas de banho ou os dormitórios, onde os pais suspeitam que também possam ter ocorrido maus-tratos. “O que vimos foi horrível. Nem quero imaginar o que acontecia nas zonas sem câmara”, afirmou uma mãe durante um protesto à porta da creche.

A divulgação do caso originou uma onda de indignação local. Mais de uma centena de pais e familiares reuniram-se em frente à instituição para exigir justiça, a suspensão imediata das funcionárias envolvidas e garantias de que as crianças estão em segurança. Além do protesto, foi lançada uma petição pública com centenas de assinaturas em apenas dois dias, apelando à suspensão preventiva das suspeitas até à conclusão do processo judicial. “Estamos a falar de bebés indefesos. Não podemos permitir que continuem a trabalhar com crianças enquanto se apura a verdade”, declarou um dos subscritores.

O Ministério Público confirmou a abertura de um inquérito que decorre sob segredo de justiça. A Casa do Povo de Rabo de Peixe apresentou formalmente uma queixa-crime e colaborou na recolha de provas. As funcionárias identificadas foram inicialmente transferidas para outras valências da instituição ou colocadas sob baixa médica, uma medida que gerou críticas por não as afastar completamente do ambiente educativo. Entretanto, a Inspeção Regional da Educação e o Governo Regional dos Açores asseguraram estar a acompanhar o caso, sublinhando a importância de uma investigação célere e transparente. Também a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) local foi envolvida, garantindo o apoio necessário às famílias.