Joana Beatriz Nunes Vicente Amaral Dias Terrinca é comentadora de assuntos políticos e sociais. Após o acidente que resultou na morte do avançado do Liverpool e o seu irmão, Joana Amaral deixou uma carta aberta ao filho mais velho de Diogo Jota.
“Querido Dinis,
Escrevo-te no dia do funeral do teu pai e tio. Se algum dia leres esta carta, é porque já estarás bem maior. Terás crescido sem papá— fizeste-te sem essa metade, privado de meio teu, subtraído do que mais te pertencia.
Esta vida que tanto dá quanto tira — mãe-madrasta, tão bela quanto impiedosa, rosa de espinhos— levou-o e meteu-te a morte, a tristeza, o oco na boca e no coração, quando tinhas apenas quatro anos. Quatro anos, quando ainda não se distingue o real da fantasia. Muito menos se percebe o fim! Talvez por isso, ainda hoje, tudo te pareça um longo pesadelo do qual nunca se desperta. A dor foi tão real mas a perda tão inimaginável. Isso cabe no peito de 48 meses de vida?
Como pode uma mão tão pequenina não ter a firmeza que precisava? Como ser “o homem da casa” quando ainda não se conta até dez ?
Não foi fácil cresceres entre a dor dos teus avós e a da tua mãe, apoiando a ingenuidade dos teus irmãos, sempre na sombra desse gigante chamado Diogo Jota.
Duro ser o mais velho de três — o suporte e a esperança de tantos. Não ter pai para imitar e rivalizar…. competir com um colosso desaparecido? Difícil não escolher o futebol, difícil escolher o futebol. Impossível escapar às comparações, não sentir o dever de igualar ou ultrapassar.
Quantas vezes te disseram: “era um grande homem”? e tu só sentiste pena, pena pelos outros o terem tido mais do que tu próprio. Pena por sentires que não te valeu, não te amparou, não te ensinou os primeiros passos no mais importante jogo de todos.
Imagino o quão solitário foi. E é. Crescer na sombra de um pai famoso mas ausente — um herói para o mundo, um desconhecido para ti.
Hoje, espero que sintas orgulho dele mas, sobretudo, de ti mesmo. O teu pai continua vivo em ti e na tua família mas tu és muito mais do que “o filho do Diogo Jota”. Espero que tenhas encontrado espaço para seres o Dinis — com os teus sonhos, as tuas paixões, os teus erros e as tuas vitórias.
És único, prova viva e última da superação e, um dia, serás tu a trocar as voltas à vida, tornando-te num grande pai-presente para os teus.
Abraço, Campeão”